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Bahia em 2025 em termos de investimentos, estrutura produtiva e mercado

Em 2025 a economia baiana avança em trajetória de recuperação com composição heterogênea entre setores. A expansão do PIB em ritmo moderado no primeiro semestre acontece com suporte de agropecuária resiliente, indústria em recuperação e serviços impulsionados por turismo, logística aérea e eventos. No lado do investimento, observa‑se pipeline relevante em energia e transformação industrial, com destaque para a modernização da Refinaria de Mataripe e a continuidade de projetos no Polo de Camaçari, ao mesmo tempo em que iniciativas de hidrogênio verde sofrem reprecificação e postergações. O ecossistema de inovação amadurece na capital e no interior, com startups de base digital em saúde, educação e legal tech. No mercado de capitais, as companhias sediadas no estado apresentam balanços com disciplina de capital e movimentos de capex consistentes, ainda sob volatilidade de preços de commodities e energia.

1. Contexto macroeconômico e ciclo de atividade

A leitura do ciclo de 2025 indica crescimento real do produto estadual no primeiro semestre, com aceleração no segundo trimestre. O movimento é compatível com a normalização de cadeias industriais locais, recomposição de estoques e calendário turístico favorável. O carrego estatístico para 2026 dependerá da manutenção do dinamismo dos serviços, do ganho de produtividade na indústria de transformação e da continuidade de investimentos logísticos e energéticos. A taxa de desemprego estadual permanece acima da média das capitais do Sudeste, mas com tendência de queda na RMS à medida que a cadeia de petróleo, gás e derivados amplia a utilização de capacidade.

1.1 Composição por setor

Agronegócio segue com termos de troca relativamente favoráveis no semiárido, com ganhos de produtividade em grãos e fruticultura irrigada. Indústria de transformação avança puxada por químicos, combustíveis, fertilizantes e metalurgia. Serviços crescem com turismo, transporte aéreo internacional, comércio e serviços de alto valor agregado ligados a tecnologia.

2. Formação bruta de capital e investimentos anunciados

2.1 Investimento público‑privado

Em 2025, observam‑se aprovações de projetos relevantes com foco em interiorização do desenvolvimento, geração de emprego e expansão da base industrial. Os projetos abrangem manufatura, mineração, energia e logística. Há reforço de dotação para a rede de proteção social e infraestrutura urbana, que gera efeito multiplicador de curto prazo, além de programas setoriais voltados a inovação e exportações.

2.2 Energia e transformação industrial

A Refinaria de Mataripe apresenta ciclo de modernização contínua, com novos aportes voltados a manutenção, eficiência energética e controle ambiental. O uso de capacidade permanece elevado e a produção de diesel e QAV alcança marcas históricas no ano, reforçando encadeamentos para fornecedores locais em manutenção industrial, serviços de engenharia e transporte.

No Polo de Camaçari, observa‑se uma combinação de expansões incrementais e revisão de portfólio. Projetos de grande visibilidade em hidrogênio e amônia verde sofrem revisão financeira e de governança, com suspensão de implantação na configuração originalmente anunciada. O capital permanece disponível para soluções alternativas de monetização dos equipamentos já adquiridos e para parcerias que reduzam risco tecnológico e de mercado. Ainda assim, a base química e petroquímica mantém relevância, sustentando emprego qualificado e compras locais.

2.3 Logística e comércio exterior

A infraestrutura aeroportuária de Salvador amplia movimentação de passageiros internacionais e crescimento expressivo das exportações via terminal de cargas. O ganho de conectividade aérea tem efeito renda sobre turismo e serviços associados. A agenda portuária e rodoviária segue em debate, com ênfase em corredores de escoamento para mineração, agronegócio e bens industriais.

2.4 Eventos e economia do entretenimento

A política de promoção de grandes eventos no calendário estadual expande seu efeito multiplicador. A contratação antecipada de atrações e a interiorização das festas trazem impacto sobre hospedagem, alimentação, transporte e comércio local, com geração de emprego temporário e formalização de serviços.

3. Mercado de capitais baiano

3.1 Petróleo e gás onshore

A PetroReconcavo mantém posição de relevância para o onshore brasileiro, com produção estabilizada em torno de patamares altos e incremento de capex em 2025. A estratégia combina workovers, perfuração seletiva e otimização de malhas de levantamento sísmico. O consumo de caixa em trimestres específicos decorre de um front‑load de investimento e de um ciclo de manutenção que antecipa ganhos de produção futuros. No ativo Bahia, a produção cresce ao longo do ano, refletindo retorno de poços e conectividade da malha de escoamento.

3.2 Metalurgia e mineração

A Ferbasa, com parque industrial em Pojuca e operações minerárias no estado, segue exposta ao ciclo de ferroligas, energia e câmbio. A diversificação de fontes, inclusive a operação eólica própria, mitiga volatilidade de custos. A empresa preserva disciplina de alocação de capital e mantém política de dividendos alinhada ao ciclo de resultados.

3.3 Outras companhias com presença relevante

Companhias listadas com operações significativas na Bahia, ainda que sediadas em outros estados, seguem determinantes para encadeamentos locais, caso de petroquímica e energia. Mudanças de controle ou reorganizações societárias em grandes players têm potencial de reordenar a pauta de investimentos do Polo de Camaçari e adjacências.

4. Ecossistema de inovação e startups

4.1 Salvador como polo emergente

O ecossistema de Salvador consolida densidade em saúde digital, educação tecnológica e legal tech. Startups nascidas ou com presença relevante na capital mantêm tração nacional, com modelos escaláveis em B2B e B2C. A combinação de capital humano formado localmente, escolas de programação e redes de mentoria elevam a produtividade do setor.

4.2 Política de fomento e eventos

Programas estaduais e do Sebrae direcionados a tração, games e empreendedorismo inovador ampliam deal flow e maturidade. Eventos de tecnologia e negócios conectam empreendedores a investidores e corporações, com efeitos positivos sobre a taxa de sobrevivência de startups e sobre a adoção corporativa de soluções locais.

5. Comércio exterior e turismo

A retomada do fluxo internacional em 2025 aumenta o gasto médio do visitante e melhora a ocupação hoteleira na alta e média temporadas. O salto na movimentação de cargas aéreas diversifica a pauta exportadora pela via aérea e encurta prazos logísticos para bens de maior valor agregado, como farmacêuticos, aeronáuticos e eletrônicos, além de perecíveis selecionados.

6. Diagnóstico estrutural

6.1 Vantagens comparativas

Base industrial instalada de grande escala no Polo de Camaçari, know‑how de refino e petroquímica, ativos logísticos com possibilidade de ampliação e matriz energética com potencial de expansão eólica e solar. Capital humano com universidades públicas e privadas e crescente formação técnica.

6.2 Gargalos

Burocracia para licenciamentos complexos, demanda por ampliação e conservação de corredores logísticos, necessidade de financiamento de longo prazo em moeda compatível para projetos de transição energética, e ambiente de negócios que ainda requer previsibilidade regulatória em segmentos de gás natural e químicos.

7. Perspectivas 2026–2027

  1. Energia e combustíveis. A continuidade dos aportes em refino e derivados tende a sustentar a cadeia de fornecedores e serviços. Projetos de transição energética avançam mediante parcerias, reposicionamento de risco e captura de incentivos financeiros e tributários.
  2. Indústria química e materiais. Portfólio do Polo de Camaçari pode se reconfigurar com eventuais mudanças de controle em petroquímica e química básica. Espaço para maior integração entre refino, químicos e fertilizantes.
  3. Inovação aplicada. Tendência de maior adoção de soluções digitais por grandes plantas industriais e por cadeias de saúde e educação do estado, abrindo mercado para startups locais.
  4. Logística e comércio exterior. A consolidação de novas rotas aéreas e o ganho de eficiência portuária e rodoviária elevam a participação da Bahia nas exportações do Nordeste e ampliam o turismo internacional.

8. Conclusão

A Bahia fecha 2025 com um quadro de crescimento moderado, investimento privado concentrado em energia e transformação industrial e um ecossistema de inovação em consolidação. A reavaliação de projetos de hidrogênio e amônia verde não altera a tese de médio prazo de transição energética no estado, mas sugere maior seletividade, governança robusta e engenharia financeira adequada ao risco. Para destravar o próximo ciclo de expansão, recomenda‑se agenda coordenada de infraestrutura, competitividade logística, segurança regulatória e capital paciente de longo prazo. O estado possui ativos industriais e humanos suficientes para sustentar um crescimento acima da média regional, desde que o pipeline de investimentos se converta em formação de capital efetiva e em ganhos de produtividade transversal.

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